quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os PEI´s

Ultimamente, à falta de Peixe, têm aparecido por ai umas pessoas mal formadas e/ou deformadas mentalmente que se intitulam pescadores, ou têm aspirações a tal (presumo), mas que não passam de (agora é que fico um pouco apreensivo em relação à palavra a utilizar) Pseudo-pescadores. Pseudo-pescadores, não! A palavra “pescadores” não merece estar associada a pessoas mal formadas e/ou deformadas mentalmente. Como penso que de pescadores não têm nada, optei por apelidá-los de PEI´s. Predadores, Exterminadores e Infanticidas. Acho que estas três palavras (qualquer uma delas) os caracterizam melhor.
Afinal, estou-vos a falar de pessoas mal formadas e/ou deformadas mentalmente que andam pela nossa costa com o intuito de capturar uns monstros marinhos de trezentas gramas (ou menos…) e, depois se vêm gabar dos seus feitos prodigiosos, como se de uma verdadeira pescaria ou pescador se tratasse. Muitas dessas pessoas mal formadas e/ou deformadas mentalmente são ainda instadas, por outras pessoas mal formadas e/ou deformadas mentalmente, a relatar tamanhos e gloriosos feitos. Depois existem pessoas mal formadas e/ou deformadas mentalmente que, ainda, elogiam tamanhas e gloriosas façanhas.
Os PEI´s, na ânsia de relatar tamanhas e gloriosas jornadas, tudo utilizam para engrandecer tais feitos, enaltecendo desde o número do minúsculo anzol utilizado até ao temido e fatal “embuxamento”. Apresentam as fotos da praxe para confirmar oficialmente que cumpriram os centímetros legalmente exigidos, recorrendo à fita métrica para medir, desde a extremidade da barbatana caudal até ao dente ou beiço mais sobressaído do monstro.
Qual deverá ser o grau de pureza da Adrenalina que um PEI sente quando ferra, trabalha, e mata um monstro com trezentas gramas (ou menos…)? A resposta só poderá ser: da mais elevada e puríssima! Imagine-se o tempo e as energias dispendidas num combate, de igual para igual, no qual o PEI tenta arrebatar o almejado troféu numa luta titânica pela sobrevivência do mais forte.
Por fim e para concluir, estou a tentar visualizar no meu pequeno e humilde imaginário o tamanho do escamador, tesoura e faca utilizados para amanhar e desmembrar, bem como a escala industrial do forno destinado à confecção das postas deste verdadeiro monstro! Já para não falar da quantidade de sacas de batatas necessárias à sua preparação, da textura e do gosto refinado da sua carne…

Descubra você mesmo as diferenças





Em cima, peixe apanhado por um Pescador e em baixo peixe apanhado por um PEI. A régua é o tira teimas! Afinal, tem medida ou não tem?



À esquerda, anzol de Pescador nº3/0 e à direita anzol nº4 deixado por um PEI no pesqueiro. O anzol nº4 é o mais temido pelos peixes, dado o seu fatal poder de "embuxamento".

Abraço e saudações piscatórias

13 comentários:

Anónimo disse...

Caro Pejotafixe.

Não podemos ser fundamentalistas nesta matéria. Não se esqueça que a maioria dos pescadores deste país não têm o seu nível qualitativo como pescador nem a possibilidade de aceder aos pesqueiros que você frequenta. Por isso, não lhes podemos exigir que só capturem peixes de quilo ou mais. O que lhes deve ser exigido é que respeitem os tamanhos mínimos definidos por lei. No caso do sargo, esteja-se ou não de acordo, o tamanho mínimo é de 15 cm. Aliás é curioso que a fotografia que ilustra o seu post de 22 de Junho (eu não queria, mas…) exiba exemplares que aparentem não estar muito acima daquele tamanho ou das 300 gramas que refere.
Quanto á adrenalina, isso é muito variável: um sargo de 300 gramas, por exemplo, capturado junto à água, com material leve e fino, dá certamente mais adrenalina do que um, com o dobro do peso, mas pescado a partir do topo de uma falésia com 30 metros de altura e recorrendo a material pesado. Um sargo de 15 cm não terá qualquer significado para si, mas tem que aceitar que haverá pescadores para os quais esse sargo representa uma captura digna de uma fotografia. Ou não será assim ?

Cumprimentos,
Mário Pinho

PêJotaFixe disse...

Amigo Mário,
Um Sargo com menos de 400gr ainda não atingiu a maturidade suficiente para se reproduzir. No post de 22 de Junho, os peixes mais pequenos têm todos 400gr e os maiores entre 1Kg/1,3Kg. Se verificou no post de 16 de Julho, em que há um video, o peixe com menos de 400gr é devolvido ao mar.
Quanto ao fundamentalismo, qualquer dia os nossos descendentes querem apanhar um peixe e não há. Tudo isto porque se está a matar à nascença sem se deixar reproduzir. As pessoas têm que ir tomando essa consciência e, quanto a mim, a lei deveria ser alterada no sentido de só ser permitida a captura de peixe em idade adulta, e não com tamanho como referência.
Quanto à sua última questão, deixo-lhe aqui uma sábia resposta que é partilhada por todos aqueles que são Pescadores, e que deveria ser transmitida às novas e vindouras gerações: "Os grandes pescadores fazem-se com o tempo. Não são os pequenos exemplares que fazem os grandes pescadores".

Abraço e saudações piscatórias

Anónimo disse...

Caro PeJotaFixe,

Quero sublinhar que estou totalmente de acordo consigo no que diz respeito à necessidade de efectuarmos uma pesca responsável que não ponha em causa a sustentabilidade dos recursos. Também partilho a sua opinião de que os tamanhos mínimos estarão, pelo menos nalguns casos, abaixo do que seria desejável. Mas a realidade é que, mesmo com tamanhos mínimos desajustados, a maioria dos pescadores desportivos não os cumpre. Por isso lhe disse que não podia ser fundamentalista. Tomáramos nós que a generalidade dos praticantes de pesca desportiva respeitassem os tamanhos mínimos, mesmo que pequenos, quanto mais exigir-lhes que levem para casa apenas peixes adultos. A este propósito, deixo-lhe a seguinte pergunta para reflexão: será que eliminar um exemplar adulto e reprodutor é menos prejudicial para a conservação da espécie do que matar três, quatro ou cinco juvenis que ninguém garante serem capazes, algum dia, de atingir a idade reprodutiva ?
Finalmente, gostaria de lhe dizer que passo pelo seu blog com alguma frequência e aprecio muito os relatos que nos traz. E já agora, satisfaça a minha curiosidade: a fotografia que encima o blog parece-me ter sido tirada no Mirouço. Estará correcta esta suposição ?

Abraço,

Mário Pinho

PêJotaFixe disse...

Amigo Mário,
Para responder à sua primeira questão e, da experiência que tenho acumulado ao longo dos anos, reparei que são muito poucos os peixes que são apanhados ovados. Geralmente, o que costuma aparecer mais são os machos cheios de "leitugas". As fêmeas ovadas costumam ficar "acamadas" em fundões longe da costa, onde desovam, aparecendo junto à costa para comer já depois de terem desovado. Por tudo isto, e porque a expectativa de um juvenil poder chegar a adulto é muito reduzida, penso que deveremos devolver ao mar os juvenis para que eles possam crescer e ter a possibilidade de se reproduzir.
Quanto à sua segunda questão, a foto de apresentação do Blog foi tirada nos Laredos dos Mirouços virado ao Moreadouro da Escada.

Abraço e saudações piscatórias

N.R. Mais do que ensinar a pescar é necessário consciencializar.

Anónimo disse...

Caro PêJotaFixe,

Não o volto a incomodar mais com este assunto. Gostaria apenas de lhe deixar o resumo de um artigo publicado na revista Scientific American, em Abril de 2006, que diz o seguinte (a tradução é minha):

Os maiores é que devem sobreviver

Qualquer pescador profissional ou lúdico sabe que deve devolver ao mar os “pequenitos”. A ideia é dar aos peixes pequenos o tempo suficiente para crescerem e reproduzirem-se. Mas esta estratégia pode de facto estar a prejudicar os stocks de peixe. Experiências em curso efectuadas em peixes de cativeiro revelam que colher apenas os indivíduos maiores pode forçar uma espécie a desenvolver características indesejáveis que diminuem a capacidade de recuperação de um stock sobrepescado, diz David O. Conover, director do Centro de Pesquisa de Ciências Marinhas em Stony Brook (USA). Os resultados poderão explicar a razão pela qual muitos dos mananciais mais explorados do mundo não recuperam com a rapidez esperada.

Será que estamos a agir incorrectamente quando devolvemos à água os exemplares pequenos e matamos os grandes ? A avaliar por este artigo, parece que sim !

Abraço,

Mário Pinho

PêJotaFixe disse...

Amigo Mário,
Não incomoda nada! Foi para este tipo de discussões saudáveis que o Blog foi criado. Debater vários assuntos e pontos de vista, por forma a chegar a um consenso, é o que se pretende.
No que concerne ao estudo, gostaria de aprofundar mais alguns pontos sobre os quais me suscitam algumas dúvidas, nomeadamente: A espécie alvo de estudo, o facto de ser em cativeiro e o tipo de caractreristicas indesejáveis que a espécie desenvolve.
A conclusão final, no último parágrafo, parece-me acertada se a relacionar-mos com o estudo, no entanto, e como escrevi anteriormente, gostaria de aprofundar mais os pontos atrás referidos. Só o facto de o estudo ser efectuado em peixes de cativeiro condiciona, e muito, uma comparação com o peixe selvagem, dado que o peixe de cativeiro desenvolve um tipo de stress que o leva à morte, nalguns casos. Cada espécie tem a sua especificidade em termos de reprodução, desenvolvimento e adaptação ao meio. As caractreristicas indesejáveis que a espécie desenvolve, as quais não são referidas, depreendo que estão relacionadas com o cativeiro?
Eu, na minha perpectiva, continuo a libertar aqueles que penso ainda não terem atingido a maturidade suficiente para se reproduzir. Para mim, penso que esta é a melhor maneira de assegurar a continuidade das espécies. O mesmo se aplica à Humanidade.

Abraço e saudações piscatórias

Bruno Filipe disse...

Acho piada às fotos,e à diferença nas fotos entre o Pescador e o chamado "PEI"...É que o pescador tem lá um Robalo aparentemente abaixo da medida,e o "PEI" tem um peixe 5cm acima da medida,curioso...

PêJotaFixe disse...

Amigo Bruno,
O Robalote foi só para a foto porque de seguida foi devolvido ao seu meio: a água! Uma imagem vale por mil palavras mas, às vezes, deve-se também ler... Na foto pequena não se vislumbra bem, mas são 3cm. 3cm ou 5cm a diferença é pouca. O que conta, para mim, é o facto de o peixe não ter maturidade suficiente para se reproduzir e dar continuidade à espécie.

Abraço e saudações piscatórias

Bruno Filipe disse...

Amigo PêJotaFixe,peço então desculpa pelo meu lapso,mas realmente só tinha lido o "artigo" e não tinha lido os comentários posteriores.

Concordo com grande parte do que escreve no seu artigo,mas na minha opinião devemos antes tentar consciencializar as pessoas em relação à captura de peixe pequeno,em vez de partir para a crítica fácil.
Quando é explicada às pessoas a questão da maturidade do peixe para a respectiva reprodução,e se as pessoas depois de adquirirem esse conhecimento ainda continuam a prevaricar,aí sim merecem ser criticados.


Eu próprio quando me iniciei na pesca,capturei e levei algumas vezes para casa Sargos/Safias a rondar os 20cm,e apesar de hoje em dia não achar isso correcto,também não acho que isso tenha feito de mim um "PEI".

Algo em que eu não concordo consigo é em relação ao tamanho dos anzóis,pois acho que o tamanho do anzol depende da pesca que se vai fazer.O amigo usa anzóis 3/0,mas a pesca que eu faço 99% das vezes,que é a chumbadinha e tendo como alvo os Sargos/Safias,uso sempre anzóis nº 1 e faço sempre iscadas generosas e acredite que muito raramente lá vai peixe pequeno.



Abraço.

PêJotaFixe disse...

Amigo Bruno,
Eu duvido que, as pessoas que se iniciam na pesca, quando vão à peixaria ou à praça comprem "peixe de escama" de tamanho reduzidissimo, a não ser que tenham dificuldades económicas. Porquê que quando vão à pesca os trazem para casa em vez de os devolverem à água? Ao menos, podia ser que o peixe lá voltasse novamente para o pescador ir treinando até ter prática suficiente para apanhar maiores. Eheheh
Estive esta manhã à pesca e ao meu lado estava outro pescador. Enquanto ele apanhava três peixes eu apanhava um. Enquanto os peixes dele rondavam as 400/500grs, o peixe mais pequeno que apanhei foi um sargo de 700grs. O resto era quase tudo de 1Kg até 1,5Kg. Houve dois que pesavam mais e tive que por o cesto. Eu estava a usar anzol 3/0 com iscadas de caranguejo inteiro enquanto ele estava a pescar com anzol tipo "mosca" e iscava com camarão do rio, daquele pequeno.

Abraço e saudações piscatórias

Bruno Filipe disse...

Acredito amigo PêJotaFixe,

Eu também prefiro uma pesca com poucos exemplares mas de bom porte,do que uma pesca em grande quantidade mas com peixe de tamanho reduzido como muitos fazem.

Em relação ao tamanho do peixe que se comercializa,isso é algo que me revolta...Se o meu amigo passar numa qualquer banca de peixe num hipermercado, o que se vê são autênticos infanticidios. Eu já vi de tudo,Robalos com 25 ou 30cm,Sargos bem abaixo dos 15 cm,Douradas minúsculas,resumindo é uma autêntica vergonha.
Eu o único peixe que compro é o Bacalhau Hehe,quanto ao resto do peixe não o for apanhar também não o como. Desculpe lá este aparte que nada tem a ver com o "artigo",era só um desabafo.

Abraço.

virakopos disse...

Caro Pejotafixe

Peço que perdoe a minha intromissão neste assunto, dos tamanhos e por arrasto, dos pesos.
Só há bem pouco tempo descobri este cantinho e confesso estar rendido à qualidade do mesmo.Talvez que o facto de ser natural de Sagres me faça gostar ainda mais.
No que ao assunto diz respeito, quero afirmar a minha completa concordância, mas nao posso deixar de lhe relembrar que numa crónica que por aqui li, refere ter apanhado, por três vezes, quatro sargos de bom peso - ou seja doze - e ainda, creio, umas douradas. Pergunto-lhe apenas, será que o que pescou não estava bem acima do peso permitido ?

Rui Martins

PêJotaFixe disse...

Amigo Rui,
Sabe, eu não costumo levar balança nem fita métrica, como alguns fazem, para o pesqueiro. Eheheh Geralmente peso o peixe a "olhómetro". lol Deixando-me de brincadeiras, no caso que referiu da pesca ilhada tento sempre ter o peixe vivo dentro de uma saca e numa poça para depois escolher os maiores exemplares e avaliar o peso total a "olhómetro". O excesso devolvo à procedência. Foi por isso que não tive tempo para jogar as mãos à saca do peixe. A prancha e as barbatanas eram mais importantes, neste caso, que o peixe.
Quero-lhe agradecer por ter comentado neste Blog porque é muito raro os pescadores Algarvios participarem com as suas opiniões ou sugestões. Obrigado!

Abraço e saudações piscatórias